Este ano nossas escolas das Redes Municipal e Estadual estão participando da Olimpíada Brasileira de Língua Portuguesa Escrevendo o Futuro. A Olimpíada que ocorre apenas em anos pares incentiva nossos alunos a retratarem o lugar onde vivem através dos gêneros literários Poema, Memórias, Crônica e Artigo de Opinião. Em minhas pesquisas na internet, algo que gosto muito de fazer, encontrei o texto da Deyse Luanny, ex-aluna da Escola Leandro Pinheiro e que no ano de 2010 protagonizou um dos maiores feitos já realizados por uma escola no nosso município ao chegar a final das Olimpíadas em Brasília e ter ficado entre os 10 melhores textos do Brasil na Categoria Memórias Literárias. Vou posta-lo aqui, para quem sabe, inspirar os professores e alunos que estão participando das Olimpíadas este ano.
Texto
vencedor das Etapas Municipal, Estadual e Regional e que ficou entre os 10
melhores na Etapa Nacional na Olímpiada de Língua Portuguesa na Categoria
Memórias Literárias em 2010
O SONHO VERMELHO DA COMUNIDADE SANTO ANTONIO
O SONHO VERMELHO DA COMUNIDADE SANTO ANTONIO
Minha mãe gosta muito de contar histórias sobre o
lugar onde vivia quando criança. Ela diz que mesmo passado tanto tempo, ainda
lembra com muito orgulho das alegrias e dificuldades pelas quais passou. “Como
era bom viver naquele tempo, onde avós, tios e primos se reuniam nas noites
prateadas para ouvir, sentados em tamboretes, histórias engraçadas e
arrepiantes.
Meu lugar se chama Santo Antônio, comunidade do
interior de São Miguel do Guamá. Era um vilarejo de pouca gente, sem ruas,
apenas caminhos, com uma casa aqui, outra acolá e costumes modestos como tomar
banho, lavar roupa e ariá panelas no igarapé, assar e comer peixe frito com
açaí e chibé.
Morávamos meus pais, dez irmãos e eu, numa casinha
com cheiro de terra molhada, de apenas três compartimentos e dormíamos em redes
iluminadas com as lamparinas, pois aqui não existia eletricidade. Com o passar
do tempo, as histórias de lobisomem, mulher da teta grande e outras foram
ficando para trás, onde só se ouvia o cri-cri dos grilos e o coaxar dos sapos,
passou a se ouvir o chiado de uma televisão. Lembro-me de tudo como se fosse
hoje. A primeira televisão vermelha de 12 polegadas que chegou à casa grande de
meu avô. Foi uma novidade para todos os netos, que trocaram o terreiro, o céu
estrelado com as histórias e “causos” pelo chão frio de cimento. Os vizinhos,
nem se fala. Adoraram. Não saíam da janela do vovô. As noites de luar com as
inesquecíveis serenatas regadas a viola, foram substituídas pelos jornais e
telenovelas, até mesmo pelos comerciais. Olhávamos tudo, cheios de alegria,
admiração e muito silêncio aquela pequena e grande televisão. E o mais
engraçado era que a criançada não podia dar nenhum pio, senão, vovô Antônio,
ameaçava desligar a TV, e isso era o suficiente.
Vinha gente de todas as redondezas, ver a novela e
o jornal, sendo que a primeira era mais interessante e quando a bateria estava
descarregando, a TV era desligada nos comerciais para que não perdêssemos
nenhuma parte. (a TV era ligada somente à noite).A novela custava um grande
sacrifício para mim e meus irmãos, pelo fato de acordarmos às 5 da manhã para
ir a pé por uma trilha de 5 km até o ônibus que nos levava à escola e às vezes
de levarmos a valiosa bateria que pesava 7 kg, na cabeça para carregar na
cidade. Enquanto isso, vovô avisava a todos que não haveria novela porque a
bateria estava para o “carrego”.
Ainda me lembro daquelas longas e dolorosas noites
sem televisão, ficávamos todos em nossas casas, mudos, esperando o sono chegar.
O tempo foi passando e meu avô, viúvo, resolveu vender suas terras e ir para
cidade. E a televisão vermelha? Bom, ele levou junto. Foi triste para nós
porque meus pais não tinham condições de comprar uma. Para os vizinhos, uma
perda inesquecível, também. Nossa comunidade nunca mais foi a mesma.
Atualmente, temos energia elétrica, celular,
televisão, até internet, tudo está diferente, pois a modernidade já chegou por
aqui. Aqueles dias com a primeira televisão ficaram guardadas na memória dos
que viveram o sonho vermelho”. Após o relato de minha mãe, percebi que, de seus
olhos rolavam uma única lágrima, não de tristeza, mas de felicidade por
relembrar seus tempos de menina.
Autora:
Aluna Deisy Luana Teixeira de SouzaTurma: 7ª série
Professora:
Fernanda Marlyse Grancini dos Santos
Escola : Padre Leandro Pinheiro
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